A Angola deles e a nossa

O MPLA, reconheça-se, continua a querer transformar Angola deles num país desenvolvido e de referência em África e no Mundo. Estão no poder há 40 anos, mas isso é muito pouco.

Por Orlando Castro

F azendo nossas as ideias do secretário-geral do partido, Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, devidamente autenticadas pelo “escolhido de Deus”, precisa de mais uns 40. Numa primeira fase, é claro.

Ficam, contudo, algumas dúvidas. Se a Angola (deles) é, por força da impoluta governação do MPLA que já dura desde 1975, uma referência em todo o Mundo e arredores, para onde quererá “Dino Matrosse” que o reino vá?

É que a Angola (deles) é mesmo uma nobre e incólume referência mundial, graças exclusivamente ao MPLA e à liderança do “querido líder” José Eduardo dos Santos que, por ser divina, já dura desde 1979 sem carecer de qualquer eleição nominal. Não fossem as suas instruções e o MPLA teria em todas as eleições mais de 100% dos votos.

Com 70% da população afectada pela pobreza, com uma taxa de mortalidade infantil que é a das mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças, a Angola (a nossa) é uma referência em África, no Mundo e – seguramente – arredores.

Outros indicadores, basilares para que Angola (a nossa) seja a tal referência, revelam que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e que somente 44% dispõe de saneamento básico, que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.

Mas há mais dados que revelam toda a capacidade que Angola (a nossa) tem, graças ao MPLA e ao seu líder – “o escolhido de Deus”- para ser um paradigma pelo menos africano e mundial: 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

Quem não se recorda de, em Agosto de 2012, por exemplo, os centros de saúde dos bairros Bula-Matady, Nabamby e o Hospital Municipal do Lubango, no bairro da Mitcha, na capital da província de Huíla, terem solicitado às parturientes que se fizessem acompanhar de velas para a sua assistência, devido às falhas de energia e falta de geradores?

Mas em abono dessa divina governação do MPLA jogam outros factores que fazem de Angola (a nossa) a tal referência africana e mundial: a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação que é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino, 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

“Dino Matross” poderia igualmente, no âmbito dos mais altos valores patrióticos do MPLA, falar da dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens que é o método oficial do regime para amordaçar os angolanos ou, ainda, que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% da população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem em Cabinda.

Também não seria descabido “Dino Matross” lembrar que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

“Dino Matross” lembrou-se, contudo, de dizer que a aposta do Executivo é na diversificação da economia para que o país deixe de depender exclusivamente do petróleo e dos diamantes e, mais importante do que tudo isso, que o MPLA, ao longo da sua trajectória, cumpriu os seus princípios ideológicos, enraizando-se no povo e tornou-se “numa força respeitada em Angola, em África e no Mundo”.

Em síntese. Antes do MPLA a Angola (deles) não existia. A outra Angola (a nossa), essa sempre existiu.

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One Thought to “A Angola deles e a nossa”

  1. Kaya Mendez

    A GRANDE MENTIRA NÃO É DISTRIBUIR MELHOR MAS É DIZER QUE CABINDA É ANGOLA SEGUNDO OS ACORDOS DE ALVOR DE 1975.
    O POVO DE CABINDA É A FLEC E A FLEC É O POVO DE CABINDA
    E A IDEPENDENCIA DO TERRITÓRIO

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